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4.2 Propriedades de integração

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Na Seção 4.1, vimos que a integral definida de uma dada função f em um intervalo [a,b] está associada à área (líquida) entre seu gráfico e as retas y=0, x=a e x=b. Veja a Figura 4.2.

Com base nesta noção geométrica, podemos inferir as seguintes propriedades de integração para funções integráveis f e g:

  1. a)

    Integral degenerada

    aaf(x)𝑑x=0 (4.23)
  2. b)

    Multiplicação por escalar

    abkf(x)𝑑x=kabf(x)𝑑x (4.24)
  3. c)

    Soma/subtração

    ab[f(x)±g(x)]𝑑x=abf(x)𝑑x±abg(x)𝑑x (4.25)
  4. d)

    Sobreposição/concatenação de intervalos

    abf(x)𝑑x=acf(x)𝑑x+cbf(x)𝑑x (4.26)
  5. e)

    Cotas inferior e superior

    minx[a,b]{f(x)}(ba)abf(x)𝑑xmaxx[a,b]{f(x)}(ba) (4.27)
Exemplo 4.2.1.

Sejam f e g funções integráveis tais que

14f(x)𝑑x=2, (4.28)
45f(x)𝑑x=3, (4.29)
14g(x)𝑑x=1. (4.30)

Então, vejamos os seguintes casos:

  1. a)
    41g(x)𝑑x =14g(x)𝑑x (4.31)
    =(1)=1. (4.32)
  2. b)
    114f(x)𝑑x=0. (4.33)
  3. c)
    142g(x)dx =214g(x)𝑑x (4.34)
    =2. (4.35)
  4. d)
    14[f(x)2g(x)]𝑑x =14f(x)𝑑x142g(x)𝑑x (4.36)
    =2214g(x)𝑑x (4.37)
    =2+2=4. (4.38)
  5. e)
    15f(x)𝑑x =14f(x)𝑑x+45f(x)𝑑x (4.39)
    =2+3=5. (4.40)
Exemplo 4.2.2.

Lembrando que 1senx1, temos da propriedade e) acima que

2πminx[π,π]{sen(x)}ππsen(x)𝑑x2πmaxx[pi,π]{sen(x)} (4.41)
2πππsen(x)𝑑x2π.

4.2.1 Teorema do valor médio

Com base na noção de integral, define-se a média de uma função f no intervalo [a,b] por

1baabf(x)𝑑x, (4.42)

no caso de f ser integrável neste intervalo.

Teorema 4.2.1.

(Teorema do valor médio para integrais) Se f for contínua em [a,b], então existe c[a,b] tal que

f(c)=1baabf(x)𝑑x. (4.43)
Demonstração.

Vejamos uma ideia da demonstração. Da propriedade de integração e) acima, temos

minx[a,b]{f(x)}1baabf(x)𝑑xmaxx[a,b]{f(x)}. (4.44)

Agora, pelo Teorema do valor intermediário (Teorema 1.6.1), temos f assume todos os valores entre seus valores mínimo e máximo. Logo, existe c[a,b] tal que

f(c)=1baabf(x)𝑑x. (4.45)

Exemplo 4.2.3.

Seja f uma função contínua em [a,b], ab, e

abf(x)𝑑x=0, (4.46)

então f possui pelo menos um zero neste intervalo. De fato, do Teorema do valor médio para integrais, temos que existe c[a,b] tal que

f(c) =1baabf(x)𝑑x (4.47)
=1ba0=0. (4.48)

4.2.2 Teorema fundamental do cálculo, parte I

Seja f uma função integrável e F a função definida por

F(x)=axf(t)𝑑t, (4.49)

para algum número real a dado.

Teorema 4.2.2.

(Teorema fundamental do cálculo, parte I) Se f é contínua em [a,b], então é contínua em [a,b] e diferenciável em (a,b) a função

F(x)=axf(t)𝑑t (4.50)

sendo

F(x)=ddxaxf(t)𝑑t=f(x). (4.51)
Demonstração.

Vejamos a ideia da demonstração. Da definição de derivada, temos

F(x) =limh0F(x+h)F(x)h (4.52)
=limh01h[ax+hf(x)𝑑xaxf(x)𝑑x] (4.53)
=limh01hxx+hf(x)𝑑x. (4.54)

Agora, do Teorema do valor médio para integrais (Teorema 4.2.1), temos que existe ch[x,x+h] tal que

f(ch) =1x+hxxx+hf(x)𝑑x (4.55)
=1hxx+hf(x)𝑑x. (4.56)

Notemos que chx quando h0 e, portanto, temos

F(x) =limh01hxx+hf(x)𝑑x (4.57)
=limh0f(ch) (4.58)
=f(x). (4.59)

Exemplo 4.2.4.

Vejamos os seguintes casos:

  1. a)
    ddx1xt2𝑑t=x2. (4.60)
  2. b)
    ddx0xsen(t)𝑑t=sen(x) (4.61)

Com o Python+SymPy, podemos computar os resultados acima com os seguintes comandos:

Código 65: Python
1    In : from sympy import *
2    >>> x, t = symbols('x,t')
3    >>> # a)
4    >>> diff(integrate(t**2, (t,1,x)))
5    >>>
6     x**2
7
8    In : diff(integrate(sin(t), (t,0,x)))
9     sin(x)

4.2.3 Integral indefinida

A parte I do Teorema fundamental do cálculo (Teorema 4.2.2), mostra que a integral de uma função f (contínua) é uma função F tal que

F(x)=f(x). (4.62)

Dizemos que F é uma primitiva da função f.

Observamos que se F é uma primitiva de f, então

G(x)=F(x)+C (4.63)

também é primitiva de f para qualquer constante C, i.e.

G(x) =(F(x)+C) (4.64)
=F(x)+(C) (4.65)
=f(x)+0 (4.66)
=f(x). (4.67)

Mais ainda, do Corolário 3.3.2 do Teorema do valor médio para derivadas, temos que quaisquer duas primitivas de uma mesma função diferem-se apenas uma constante.

Com isso, definimos a integral indefinida de f em relação a x por

f(x)𝑑x=F(x)+C, (4.68)

onde F é qualquer primitiva de f e C uma constante indeterminada.

Exemplo 4.2.5.

Vejamos os seguintes casos:

  1. a)
    𝑑x=x+C (4.69)
  2. b)
    2x𝑑x=x2+C (4.70)
  3. c)
    cos(x)𝑑x=sen(x)+C (4.71)
  4. d)
    ex𝑑x=ex+C (4.72)

Com o Python+SymPy, podemos computar as integrais indefinidas acima com os seguintes comandos:

Código 66: Python
1    In : from sympy import *
2    In : x = symbols('x')
3    >>> # a)
4    >>> integrate(1, x)
5    >>>
6     x
7    # b)
8    In : integrate(2*x, x)
9    >>>
10     x**2
11    # c)
12    In : integrate(cos(x), x)
13    >>>
14     sin(x)
15    # d)
16    In : integrate(exp(x), x)
17     exp(x)

4.2.4 Teorema fundamental do cálculo, parte II

Teorema 4.2.3.

(Teorema fundamental do cálculo, parte II) Se f é contínua em [a,b] e F é qualquer primitiva de f, então

abf(x)𝑑x=F(b)F(a). (4.73)
Demonstração.

Vejamos a ideia da demonstração. A parte I do Teorema fundamental do cálculo (Teorema 4.2.2), nos garante a existência de

G(x)=axf(t)𝑑t. (4.74)

Seja, então, F uma primitiva qualquer de f. Logo,

F(b)F(a) =[G(b)+C][G(a)+C] (4.75)
=G(b)G(a) (4.76)
=abf(t)𝑑xaaf(t)𝑑t (4.77)
=abf(t)𝑑x. (4.78)

Exemplo 4.2.6.

Vejamos os seguintes casos:

  1. a)
    01𝑑x =x|01 (4.79)
    =10=1 (4.80)
  2. b)
    01x𝑑x =x22|01 (4.81)
    =122022=12 (4.82)
  3. c)
    π2π2cos(x)𝑑x =sen(x)|π2π2 (4.83)
    =sen(π2)sen(π2) (4.84)
    =2 (4.85)

Com o Python+SymPy, podemos computar as integrais indefinidas acima com os seguintes comandos:

Código 67: Python
1    In : from sympy import *
2    >>> x = symbols('x')
3    >>> # a)
4    >>> integrate(1, (x,0,1))
5     1
6    ..: # b)
7    In : integrate(x, (x,0,1))
8     1/2
9    ..: c)
10    In : integrate(cos(x), (x,-pi/2,pi/2))
11     2
Observação 4.2.1.

(Permutação dos limites de integração.) Do Teorema fundamental do cálculo, parte II, temos

abf(x)𝑑x=baf(x)𝑑x. (4.86)

Ou seja, o valor da integral definida muda de sinal ao permutarmos seus limites de integração. De fato, se F é uma primitiva de f, então

abf(x)𝑑x =F(b)F(a) (4.87)
=[F(a)F(b)] (4.88)
=baf(x)𝑑x. (4.89)
Exemplo 4.2.7.

Temos que

01𝑑x=x|01=10=1. (4.90)

Agora,

10𝑑x=x|10=01=1. (4.91)

Conforme esperado, temos

01𝑑x=10𝑑x. (4.92)

4.2.5 Exercícios resolvidos

ER 4.2.1.

Calcule

1ex1xdx. (4.93)
Solução.

Primeiramente, notemos que

x𝑑x=x22+C, (4.94)
1x𝑑x=lnx+C. (4.95)

Então, usando as propriedades de integração, temos

1ex1xdx =1ex𝑑x1e1x𝑑x (4.96)
=[x22]1e[lnx]1e (4.97)
=[(e)2212][lneln1] (4.98)
=e21212ln(e)0 (4.99)
=e21. (4.100)

Com o Python+SymPy, podemos computar essa integral definida com os seguintes comandos:

Código 68: Python
1    In : from sympy import *
2    >>> x = symbols('x')
3    >>> integrate((x - 1/x), (x,1,sqrt(E)))
4     -1 + E/2
ER 4.2.2.

Calcule a área entre o gráfico de f(x)=sen(x) e as retas y=0, x=π/2 e x=π/2.

Solução.

Lembrando que a integral definida está associada a área sob o gráfico do integrando, temos que a área desejada pode ser calculada por

A=π20sen(x)𝑑x+0π2sen(x)𝑑x, (4.101)

pois sen(x)<0 para x(π/2,0) e sen(x)>0 para x(0,π/2). Também, observamos que

sen(x)𝑑x=cos(x)+C. (4.102)

Logo, do Teorema fundamental do cálculo segue que

A =π20sen(x)𝑑x+0π2sen(x)𝑑x (4.103)
=[cos(x)]π20+[cos(x)]0π2 (4.104)
=[10]+[0(1)]=2. (4.105)

Com o Python+SymPy, podemos computar essa integral definida com os seguintes comandos:

Código 69: Python
1    In : from sympy import *
2    >>> x = symbols('x')
3    >>> A = -integrate(sin(x), (x,-pi/2,0))
4    >>> A += integrate(sin(x), (x,0,pi/2))
5    >>> A
6     2
ER 4.2.3.

Encontre a função y=y(x) tal que

dydx=x, (4.106)

e y(0)=1.

Solução.

Integrando ambos os lados da equação diferencial em relação a x, temos

dydx𝑑x=x𝑑x (4.107)
y=x22+C (4.108)

Agora, da condição y(0)=1, segue

y(0)=1 (4.110)
022+C=1 (4.111)
C=1. (4.112)

Concluímos que y=x2/2+1. Com o Python+SymPy, podemos resolver esta computar essa integral definida com os seguintes comandos:

Código 70: Python
1    In : from sympy import *
2    >>> y = Function('y')
3    >>> x = symbols('x')
4    >>> dsolve(Eq(diff(y(x),x), x), y(x), ics={y(0):1})
5     Eq(y(x), x**2/2 + 1)

4.2.6 Exercícios

E. 4.2.1.

Sejam f e g tais que

20f(x)𝑑x=2,10f(x)𝑑x=12, (4.113)
20g(x)𝑑x=1. (4.114)

Calcule

  1. a)

    11f(x)51g(x)dx

  2. b)

    202g(x)12f(x)dx

  3. c)

    21f(x)𝑑x

Resposta.

a) 0; b) 3; c) 5/2

E. 4.2.2.

Calcule

  1. a)

    122𝑑x

  2. b)

    311xdx

  3. c)

    1e2x𝑑x

Resposta.

a) 6; b) 6; c) 2

E. 4.2.3.

Calcule a área entre o gráfico de f(x)=x21 e as retas y=0, x=0 e x=2.

Resposta.

4/3

E. 4.2.4.

Encontre a função y=y(x) tal que

dydx=cos(x), (4.115)

e y(π)=1.

Resposta.

y=sen(x)+1


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