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2.2 Função derivada

A derivada de uma função f em relação à variável x é a função f=dfdx cujo valor em x é

f(x)=limh0f(x+h)f(x)h, (2.73)

quando este limite existe. Dizemos que f é derivável (ou diferenciável) em um ponto x de seu domínio, quando o limite dado em (2.73) existe. Se isso ocorre para todo número real x, dizemos que f é derivável em toda parte.

Exemplo 2.2.1.

A derivada de f(x)=x2 é

f(x) =limh0f(x+h)f(x)h (2.74)
=limh0(x+h)2x2h (2.75)
=limh0x2+2xh+h2x2h (2.76)
=limh02x+h=2x. (2.77)

Observamos que este é o caso de uma função derivável em toda parte.A Figura 2.4.

Refer to caption
Figura 2.4: Esboços dos gráficos da função f(x)=x2 e de sua derivada f(x)=2x.

Com o SymPy, podemos usar os seguintes comandos para verificarmos este resultado:

1    from sympy import *
2    x,h = symbols('x,h')
3    f = lambda x: x**2
4    limit((f(x+h)-f(x))/h,h,0)

Mais adequadamente, podemos usar o comando:

1    diff(x**2,x)

ou, equivalentemente,

1    diff(x**2)

para computar a derivada de x2 em relação a x.

Observação 2.2.1.

A derivada à direita (à esquerda) de uma função f em um ponto x é definida por

f±(x)=dfdx±=limh0±f(x+h)f(x)h. (2.78)

Desta forma, no caso de pontos extremos do domínio de uma função, empregamos a derivada lateral correspondente.

Exemplo 2.2.2.

Vamos calcular a derivada de f(x)=x. Para x=0, só faz sentido calcular a derivada lateral à direta:

f+(0) =limh0+0+h0h (2.79)
=limh0+hh (2.80)
=limh0+1h0+=+. (2.81)

Ou seja, f(x)=x não é derivável em x=0. Agora, para x>0, temos

f(x) =limh0x+hxh (2.82)
=limh0x+hxhx+h+xx+h+x (2.83)
=limh0x+hxh(x+h+x) (2.84)
=12x. (2.85)

Na Figura 2.5, temos os esboços dos gráficos desta função e de sua derivada.

Refer to caption
Figura 2.5: Esboços dos gráficos da função f(x)=x e de sua derivada.

No SymPy, a computação de f+(0) pode ser feita com os comandos1313endnote: 13Por padrão no SymPy, o limite é tomado à direita.:

1    from sympy import *
2    h = Symbol('h')
3    limit((sqrt(0+h)-sqrt(0))/h,h,0)

E, a derivada de f(x)=x (nos pontos de diferenciabilidade) pode ser obtida com o comando:

1    diff(sqrt(x),x)
Exemplo 2.2.3.

A função valor absoluto é derivável para todo x0 e não é derivável em x=0. De fato, para x<0 temos

f(x) =limh0|x+h||x|h (2.86)
=limh0(x+h)+xh (2.87)
=limh0hh=1. (2.88)

Analogamente, para x>0 temos

f(x) =limh0|x+h||x|h (2.89)
=limh0x+hxh (2.90)
=limh0hh=1. (2.91)

Agora, para x=0, devemos verificar as derivadas laterais:

f+(0) =limh0+|h||0|h=limh0+hh=1, (2.92)
f(0) =limh0|h||0|h=limh0hh=1. (2.93)

Como as derivadas laterais são diferentes, temos que y=|x| não é derivável em x=0. Na figura 2.6, temos os esboços dos gráficos de f(x)=|x| e sua derivada

f(x)={1,x<0,1,x>0 (2.94)

Esta é chamada de função sinal e denotada por sign(x). Ou seja, a função sinal é a derivada da função valor absoluto.

Refer to caption
Figura 2.6: Esboços dos gráficos da função f(x)=|x| e de sua derivada.

No SymPy, podemos computar a derivada da função valor absoluto com o comando:

1    In : from sympy import *
2    ...: x = symbols('x', real=True)
3    ...: diff(abs(x))
4    Out: sign(x)

2.2.1 Continuidade de uma função derivável

Uma função y=f(x) derivável em x=x0 é contínua neste ponto. De fato, lembramos que f é contínua em x=x0 quando x0 é um ponto de seu domínio e

limxx0f(x)=f(x0). (2.95)

Isto é equivalente a

limh0f(x0+h)=f(x0) (2.96)

ou, ainda,

limh0[f(x0+h)f(x0)]=0. (2.97)

Vamos mostrar que este é o caso quando f é derivável em x=x0. Neste caso, temos

limh0[f(x0+h)f(x0)] =limh0[f(x0+h)f(x0)]hh (2.98)
=limh0[f(x0+h)f(x0)hf(x0)]h (2.99)
=limh0f(x0)h (2.100)
=0. (2.101)

Ou seja, de fato, se f é derivável em x=x0, então f é contínua em x=x0.

Observação 2.2.2.

A recíproca não é verdadeira, uma função f ser contínua em um ponto x=x0 não garante que ela seja derivável em x=x0. No Exemplo 2.2.3, vimos que a função valor absoluto f(x)=|x| não derivável em x=0, enquanto esta função é contínua (veja, também, o Exemplo 1.6.2).

2.2.2 Derivadas de ordens mais altas

A derivada de uma função y=f(x) em relação a x é a função y=f(x). Quando esta é diferenciável, podemos calcular a derivada da derivada. Esta é conhecida como a segunda derivada de f, denotamos

f′′(x):=(f(x))oud2dx2f(x)=ddx(ddxf(x)). (2.102)
Exemplo 2.2.4.

Seja f(x)=x3. Então, a primeira derivada de f é

f(x) =limh0f(x+h)f(x)h (2.103)
=limh0(x+h)3x3h (2.104)
=limh0x3+3x2h+3xh2+h3x3h (2.105)
=limh03x2+3xh0+h20=3x2. (2.106)

De posse da primeira derivada f(x)=3x2, podemos calcular a segunda derivada de f, como segue:

f′′(x) =[f(x)] (2.107)
=limh0f(x+h)f(x)h (2.108)
=limh03(x+h)23x2h (2.109)
=limh03x2+6xh+h23x2h (2.110)
=limh06x+h0=6x, (2.111)

i.e. f′′(x)=6x.

No SymPy, podemos computar a segunda derivada da função com o comando:

1    In : from sympy import *
2    ...: x = symbols('x')
3    ...: diff(x**3,x,2)
4    Out: 6*x

Generalizando, quando existe, a n-ésima derivada de uma função y=f(x), n1, é recursivamente definida (e denotada) por

f(n)(x):=[f(n1)]oudndxnf(x):=ddx[dn1dxn1f(x)], (2.112)

com f(3)f′′′, f(2)f′′, f(1)f e f(0)f.

Exemplo 2.2.5.

A terceira derivada de f(x)=x3 em relação a x é f′′′(x)=[f′′(x)]. No exemplo anterior (Exemplo 2.2.4), calculamos f′′(x)=6x. Logo,

f′′′(x) =[6x] (2.113)
=limh06(x+h)6xh (2.114)
=limh06=6. (2.115)

A quarta derivada de f(x)=x3 em relação a x é f(4)(x)0, bem como f(5)(x)0. Verifique!

No SymPy, podemos computar a terceira derivada da função com o comando:

1      In : from sympy import *
2      ...: x = symbols('x')
3      ...: diff(x**3,x,3)
4      Out: 6

2.2.3 Exercícios resolvidos

ER 2.2.1.

Calcule a derivada da função f(x)=x2+2x+1 em relação a x.

Solução.

Por definição da derivada, temos

f(x) =limh0f(x+h)f(x)h (2.116)
=limh0(x+h)2+2(x+h)+1(x2+2x+1)h (2.117)
=limh0x2+2xh+h2+2x+2h+1x22x1h (2.118)
=limh02xh+h2+2hh (2.119)
=limh02x+h+2=2x+2. (2.120)
ER 2.2.2.

Determine os pontos de diferenciabilidade da função f(x)=|x1|.

Solução.

O gráfico da função f(x)=|x1| tem um bico no ponto x=1 (verifique!). Para valores de x<1, temos

f(x) =limh0f(x+h)f(x)h (2.121)
=limh0|x+h1<0||x1<0|h (2.122)
=limh0xh+1+x1h (2.123)
=limh0hh=1. (2.124)

Para valores de x>1, temos

f(x) =limh0f(x+h)f(x)h (2.125)
=limh0|x+h1>0||x1>0|h (2.126)
=limh0x+h1x+1h (2.127)
=limh0hh=1. (2.128)

Ou seja, temos que f(x)=|x1| é diferenciável para x1. Agora, para x=1, temos

f(x) =limh0f(1+h)f(1)h (2.129)
=limh0|h<0||11|h (2.130)
=limh0hh=1 (2.131)
f+(x) =limh0+f(1+h)f(1)h (2.132)
=limh0+|h>0||11|h (2.133)
=limh0+hh=1 (2.134)

Como f(1)f+(1), temos que f(1). Concluímos que f(x)=|x1| é diferenciável nos pontos {1}.

ER 2.2.3.

Calcule a segunda derivada em relação a x da função

f(x)=xx2. (2.136)
Solução.

Começamos calculando a primeira derivada da função:

f(x) =limh0f(x+h)f(x)h (2.137)
=limh0(x+h)(x+h)2(xx2)h (2.138)
=limh0x+hx22xhh2x+x2h (2.139)
=limh012xh0=12x. (2.140)

Então, calculamos a segunda derivada como segue

f′′(x) =[f(x)] (2.141)
=limh0f(x+h)f(x)h (2.142)
=limh012(x+h)(12x)h (2.143)
=limh02=2. (2.144)

2.2.4 Exercícios

E. 2.2.1.

Calcule a derivada em relação a x de cada uma das seguintes funções:

  1. a)

    f(x)=2

  2. b)

    g(x)=3

  3. c)

    h(x)=e

Resposta.

a) 0; b) 0; c) 0

E. 2.2.2.

Calcule a derivada em relação a x de cada uma das seguintes funções:

  1. a)

    f(x)=2x

  2. b)

    g(x)=3x

  3. c)

    h(x)=ex

Resposta.

a) 2; b) 3; c) e

E. 2.2.3.

Calcule a derivada em relação a x da função

f(x)=x22x+1. (2.145)
Resposta.

f(x)=2x2

E. 2.2.4.

Determine os pontos de diferenciabilidade da função f(x)=x1.

Resposta.

(1,)

E. 2.2.5.

Considerando

f(x)=x2x3, (2.146)

calcule:

  1. a)

    f(x)

  2. b)

    f′′(x)

  3. c)

    f′′′(x)

  4. d)

    f(4)

  5. e)

    f(1001)(x)

Resposta.

a) 2x3x2; b) 26x; c) 6; d) 0; e) 0


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