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3.3 EDO de ordem 2 não homogênea

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Nesta seção, vamos discutir o caso de EDOs lineares de segunda ordem, não-homogêneas e com coeficientes constantes. Tais EDOs têm a forma

y′′+ay+by=g(t), (3.171)

e pode-se mostrar que sua solução geral é dada como

y(t)=c1y1(t)+c2y2(t)+yp(t), (3.172)

onde y1 e y2 formam um conjunto fundamental de soluções1111endnote: 11São soluções da equação homogênea associada e W(y1,y2;t)0. da equação homogênea associada

y′′+ay+by=0 (3.173)

e yp é uma solução particular qualquer de (3.171).

3.3.1 Método da variação dos parâmetros

O método da variação dos parâmetros consiste em calcular uma solução particular de (3.171) da forma

yp(t)=u1(t)y1(t)+u2(t)y2(t), (3.174)

onde y1 e y2 é um conjunto fundamental de soluções da equação homogênea associada, enquanto u1 e u2 são funções a serem determinadas.

Observamos que a única condição que temos para determinar u1 e u2 é a equação (3.171). Ou seja, temos uma equação e duas incógnitas. Para fechar o problema, impomos a seguinte condição extra

u1y1+u2y2=0. (3.175)

Com isso, temos

yp(t) =u1y1+u1y1+u2y2+u2y2 (3.176)
=u1y1+u2y2 (3.177)

e

yp′′(t) =u1y1+u1y1′′ (3.178)
+u2y2+u2y2′′. (3.179)

Substituindo yp em (3.171), temos

g(t) =yp′′+ayp+byp (3.180)
=(u1y1+u1y1′′+u2y2+u2y2′′) (3.181)
+a(u1y1+u2y2) (3.182)
+b(u1y1+u2y2) (3.183)
=u1y1+u2y2 (3.184)
+u1(y1′′+ay1+by1)=0 (3.185)
+u2(y2′′+ay2+by2)=0 (3.186)
=u1y1+u2y2. (3.187)

Ou seja, (3.175) e (3.187) formam o seguinte sistema de equações

u1y1+u2y2 =0 (3.188)
u1y1+u2y2 =g(t) (3.189)

que têm u1 e u2 como incógnitas. Aplicando o método de Cramer1212endnote: 12Gabriel Cramer, 1704 - 1752, matemático suíço. Fonte: Wikipedia., obtemos

u1 =|0y2g(t)y2||y1y2y1y2| (3.194)
=y2(t)g(t)W(y1,y2;t) (3.195)

e

u2 =|y10y1g(t)||y1y2y1y2| (3.200)
=y1(t)g(t)W(y1,y2;t). (3.201)

Ou, ainda, por integração temos

u1(t)=y2(t)g(t)W(y1,y2;t)𝑑t (3.202)

e

u2(t)=y1(t)g(t)W(y1,y2;t)𝑑t. (3.203)

Por tudo isso, concluímos que uma solução particular de (3.171) é dada por

yp(t) =y1(t)y2(t)g(t)W(y1,y2;t)𝑑t (3.204)
+y2(t)y1(t)g(t)W(y1,y2;t)𝑑t. (3.205)
Exemplo 3.3.1.

Vamos calcular a solução geral de

y′′y=e2t. (3.206)

Começamos determinando um conjunto fundamental de soluções y1=y1(t) e y2=y2(t) da equação homogênea associada

y′′y=0. (3.207)

A equação característica associada é

r21=0, (3.208)

cujas raízes são r1=1 e r2=1. Segue que

y1(t)=etey2(t)=et. (3.209)

Agora, buscamos por uma solução particular de (3.206) da forma

yp(t)=u1(t)y1(t)+u2(t)y2(t), (3.210)

onde u1 é dada em (3.202) e u2 por (3.203). Ambas expressões requer o cálculo do wronskiano

W(y1,y2;t) =|y1y2y1y2| (3.213)
=y1y2y2y1 (3.214)
=etet+etet (3.215)
=2. (3.216)

Com isso, temos

u1(t) =y2(t)g(t)W(y1,y2;t)𝑑t (3.217)
=ete2t2𝑑t (3.218)
=12e3t𝑑t (3.219)
=16e3t (3.220)

e

u2(t) =y1(t)g(t)W(y1,y2;t)𝑑t (3.221)
=ete2t2𝑑t (3.222)
=12et𝑑t (3.223)
=12et (3.224)

Desta forma, obtemos a solução particular

yp(t) =u1(t)y1(t)+u2(t)y2(t) (3.225)
=16e3tet+12etet (3.226)
=16e2t+12e2t (3.227)
=13e2t. (3.228)

Observamos que a solução particular é um múltiplo do termo não homogêneo da EDO (3.206). Isso não é apenas um acaso e vamos explorar isso mais adiante no texto.

Por fim, concluímos que a solução geral de (3.206) é

y(t) =c1y1(t)+c2y2(t)+yp(t) (3.229)
=c1et+c2et+13e2t. (3.230)

3.3.2 Método dos coeficientes a determinar

O métodos dos coeficientes a determinar consiste em buscar por uma solução particular na forma de uma combinação linear de funções elementares apropriadas. Tais funções são inferidas a partir do termo não homogêneo da equação.

𝒈(𝒕)=𝒄𝒆𝒔𝒕

Uma equação da forma

y′′+ay+by=cest (3.231)

com sr1,r2, onde r1 e r2 são raízes da equação característica, admite solução particular

yp(t)=Aest, (3.232)

onde A é uma constante a determinar.

Exemplo 3.3.2.

Vamos calcular uma solução particular para

y′′y=e2t. (3.233)

Pelo método dos coeficientes a determinar, buscamos por uma solução particular da forma

yp(t)=Ae2t, (3.234)

observando que r1=1 e r2=1 são raízes da equação característica associada.

Substituindo yp na EDO, obtemos

e2t =y′′y (3.235)
=(Ae2t)′′Ae2t (3.236)
=(4AA)e2t (3.237)
=3Ae2t. (3.238)

Segue que

3A=1A=13. (3.239)

Daí, concluímos que

yp(t)=13e2t (3.240)

é solução particular da EDO.

Observação 3.3.1.
  1. a)

    s=r1. Uma equação da forma

    y′′+ay+by=cer1t, (3.241)

    onde r1 é raiz simples da equação característica associada, admite solução particular

    yp(t)=Ater1t. (3.242)
  2. b)

    s=r. Uma equação da forma

    y′′+ay+by=cert, (3.243)

    onde r é raiz dupla da equação característica associada, admite solução particular

    yp(t)=At2ert. (3.244)

𝒈(𝒕)=𝒄𝒏𝒕𝒏+𝒄𝒏𝟏𝒕𝒏𝟏++𝒄𝟎

Uma equação da forma

y′′+ay+by=cntn+cn1tn1++c0 (3.245)

admite solução particular

yp(t)=Antn+An1tn1++A0, (3.246)

onde An, An1, , A0 são constantes a determinar.

Exemplo 3.3.3.

Vamos calcular uma solução particular para

y′′4y=t. (3.247)

Pelo método dos coeficientes a determinar, buscamos por uma solução particular da forma

yp(t)=A1t+A0. (3.248)

Substituindo yp na EDO, obtemos

t =y′′4y (3.249)
=(A1t+A0)′′4(A1t+A0) (3.250)
=4A1t4A0. (3.251)

Segue que

4A1=1 A1=14, (3.252)
4A0=0 A0=0. (3.253)

Daí, concluímos que

yp(t)=14t (3.254)

é solução particular da EDO.

𝒈(𝒕)=𝒄𝟏𝐬𝐞𝐧(𝜷𝒕)+𝒄𝟐𝐜𝐨𝐬(𝜷𝒕)

Uma equação da forma

y′′+ay+by=c1sen(βt)+c2cos(βt) (3.255)

admite solução particular

yp(t)=ts[A1sen(βt)+A2cos(βt)], (3.256)

onde s é o menor inteiro tal que yp não seja solução da equação homogênea associada e A1 e A2 são constantes a determinar.

Exemplo 3.3.4.

Vamos calcular uma solução particular para

y′′+4y=cos(2t). (3.257)

Pelo método dos coeficientes a determinar, buscamos por uma solução particular da forma

yp(t)=t[A1sen(2t)+A2cos(2t)], (3.258)

observando que y1(t)=cos(2t) e y2(t)=sen(2t) formam um conjunto fundamental de solução para a equação homogênea associada.

Substituindo yp na EDO, obtemos

cos(2t) =y′′+4y (3.259)
=[A1tsen(2t)+A2tcos(2t)]′′ (3.260)
+4[A1tsen(2t)+A2tcos(2t)] (3.261)
=4A1cos(2t)4A2sen(2t) (3.262)

Segue que

4A1=1 A1=14, (3.263)
4A2=0 A2=0. (3.264)

Daí, concluímos que

yp(t)=14tsen(2t). (3.265)

é solução particular da EDO.

Observação 3.3.2.

(Resumo)

g(t) yp(t)
eαt(cntn+cn1tn1++c0) tseαt(Antn++A0)
eαt[c1sen(βt)+c2cos(βt)] tseαt[A1sen(βt)+A2cos(βt)]

s=0,1,2, sendo o menor valor que garanta que yp não seja solução da equação homogênea associada.

Exercícios resolvidos

ER 3.3.1.

Use o método da variação dos parâmetros para obter uma solução geral de

y′′2y3y=et+sen(t). (3.266)
Solução.

Primeiramente, resolvemos a equação homogênea associada

y′′2y3y=0. (3.267)

Para tanto, buscamos as raízes da equação característica associada

r22r3=0, (3.268)

as quais são

r=2±441(3)2, (3.269)

i.e. r1=1 e r2=3. Logo,

y1(t)=etey2(t)=e3t (3.270)

formam um conjunto fundamental de soluções da EDO homogênea.

Agora, buscamos por uma solução particular

yp(t)=u1(t)y1(t)+u2(t)y2(t) (3.271)

para a equação não homogênea. Os parâmetros variáveis u1=u1(t) e u2=u2(t) dependem do wronskiano

W(y1,y2;t) =|y1y2y1y2| (3.274)
=|ete3tet3e3t| (3.277)
=4e2t. (3.278)

Mais especificamente, eles são dados por

u1(t) =y2(t)g(t)W(y1,y2;t)𝑑t (3.279)
=e3t[et+sen(t)]4e2t𝑑t (3.280)
=14t18et[sen(t)cos(t)] (3.281)

e

u2(t) =y1(t)g(t)W(y1,y2;t)𝑑t (3.282)
=et[et+sen(t)]4e2t𝑑t (3.283)
=116e4t340e3t[sen(t)+cos(t)] (3.284)

Com isso, temos que a solução particular é

yp(t) ={14t18et[sen(t)cos(t)]}et (3.285)
+{116e4t340e3t[sen(t)+cos(t)]}×e3t (3.286)
=(116+14t)et+110cos(t)15sen(t). (3.287)

Concluímos que a solução geral é

y(t) =c1et+c2e3t (3.288)
(116+14t)et+110cos(t)15sen(t) (3.289)
=c1et+c2e3t (3.290)
t4et+110cos(t)15sen(t). (3.291)
ER 3.3.2.

Use o método dos coeficientes a determinar para obter uma solução geral de

y′′2y3y=et+sen(t). (3.292)
Solução.

Esta é a mesma equação (3.3.1) que foi resolvida no ER. 3.3.1. Das contas realizadas, sabemos que

y1(t)=etey2(t)=e3t (3.293)

são soluções fundamentais da equação homogênea associada.

Disso e com base no termo não homogêneo

g(t)=et+sen(t), (3.294)

buscamos por uma solução particular da forma

yp(t)=Atet+Bsen(t)+Ccos(t). (3.295)

Substituindo na EDO, obtemos

et+sen(t) =yp′′2yp3yp (3.296)
=4Aet+(2C4B)sen(t)(2B+4C)cos(t). (3.297)

Logo, devemos ter

4A=1A=14 (3.298)

e

4B+2C =1 (3.299)
2B4C =0 (3.300)

o que nos leva a C=1/10 e B=1/5.

Com tudo isso, concluímos que a solução geral é

y(t) =c1et+c2e3t (3.301)
t4et15sen(t)+110cos(t). (3.302)

Exercício

E. 3.3.1.

Resolva

y′′+y2y=e2t (3.303)

usando

  1. a)

    o método da variação dos parâmetros.

  2. b)

    o método dos coeficientes a determinar.

Resposta.

y(t)=c1e2t+c2et+14e2t

E. 3.3.2.

Resolva

y′′+y2y=e2t. (3.304)
Resposta.

y(t)=(c1t3)e2t+c2et

E. 3.3.3.

Resolva

y′′+2y+y=et (3.305)

usando o método dos coeficientes a determinar.

Resposta.

y(t)=(c1+c2t+t22)et

E. 3.3.4.

Resolva

y′′+4y=tcos(2t). (3.306)
Resposta.

y(t)=(c1+t16)cos(2t)+(c2+t28)sen(2t)

E. 3.3.5.

Mostre que se y1=y1(t) é solução de

y′′+by+cy=g1(t) (3.307)

e y2=y2(t) é solução de

y′′+by+cy=g2(t), (3.308)

então y(t)=y1(t)+y2(t) é solução de

y′′+by+cy=g1(t)+g2(t). (3.309)
Resposta.

Dica: Basta usar que y1′′+by1+cy1=g1(t) e que y2′′+by2+cy2=g2(t).

E. 3.3.6.

Resolva

y′′+3y+2y=t,t>0, (3.310)
y(0)=0,y(0)=0. (3.311)
Resposta.

y(t)=14e2t+et+t234

E. 3.3.7.

Considere um sistema massa-mola modelado por

ms′′+γs+ks=cos(t),t>0, (3.312)
s(0)=s0,s(0)=v0, (3.313)

onde m>0 é a massa, γ>0 é o coeficiente de resistência do meio, k>0 é a constante da mola, s=s(t) é posição da massa (s=0 posição de repouso, s>0 mola esticada, s<0 mola contraída), s0 é a posição inicial e v0 é a velocidade inicial da massa.

Supondo que γ24mk=0, o que pode se dizer sobre o comportamento de s=s(t) para valores de t muito grandes.

Resposta.

s(t)1γ2+(km)2(kmγcos(t)+sen(t))


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