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3.2 EDO de ordem 2: raízes complexas ou repetidas

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Na Seção 3.1 introduzimos as propriedades fundamentais de EDOs lineares de segunda ordem com coeficientes constantes. Em particular, tratamos o caso em que a equação característica tem raízes reais distintas. Nesta seção, estudamos os casos em que a equação característica tem raízes complexas ou raízes duplas.

3.2.1 Raízes complexas

Consideramos

ay′′+by+cy=0, (3.81)

cuja equação característica

ar2+br+c=0 (3.82)

tem raízes complexas

r1=λ+iμ,r2=λiμ. (3.83)

As soluções particulares associadas são

y1(t)=er1t=e(λ+iμ)t (3.84)
y2(t)=er2t=e(λiμ)t. (3.85)

Da fórmula de Euler88endnote: 8Leonhard Euler, 1707-1783, matemático suíço. Fonte: Wikipedia., temos

ea+bi =eaebi (3.86)
=ea(cosb+isenb). (3.87)

Ou seja, as soluções particulares podem ser reescritas da forma99endnote: 9Lembre-se que seno é uma função ímpar, i.e. sen(x)=sen(x).

y1(t)=eλt[cos(μt)+isen(μt)], (3.88)
y2(t)=eλt[cos(μt)isen(μt)] (3.89)

Agora, se denotarmos

u(t)=eλtcos(μt)ev(t)=eλtsen(μt), (3.90)

temos

y1(t)=u(t)+iv(t),y2(t)=u(t)iv(t). (3.91)

Para concentrar a escrita, vamos denotar

y(t)=u(t)±iv(t). (3.92)

Substituindo y=y(t) na EDO, obtemos

0 =ay′′+by+cy (3.93)
=a(u′′±iv′′) (3.94)
+b(u±iv) (3.95)
+c(u+±iv) (3.96)
=(au′′+bu+cu) (3.97)
±i(av′′+bv+cv). (3.98)

Ou seja,

au′′+bu+cu =0 (3.99)
av′′+bv+cv =0. (3.100)

Desta forma, concluímos que u(t)=eλtcos(μt) e v(t)=eλtsen(μt) são soluções particulares da EDO (3.81). Ainda mais, pode-se mostrar que o wronskiano W(u,v;t)0, i.e. u e v formam um conjunto fundamental de soluções. Do que vimos na Seção 3.1, concluímos que

y(t)=eλt[c1cos(μt)+c2sen(μt)] (3.101)

é solução geral de (3.81).

Exemplo 3.2.1.

Vamos resolver

y′′+2y+5y=0. (3.102)

Começamos identificando a equação característica associada

r2+2r+5=0. (3.103)

Suas raízes são

r =2±44152 (3.104)
=1±2i. (3.105)

Logo, a solução geral é

y(t)=et[c1cos(2t)+c2sen(2t)]. (3.106)

Modelagem: sistema massa-mola não amortecido

Consideremos um sistema massa-mola não amortecido e sem ação de força externa. Denotamos por m>0 a massa, k>0 a constante da mola. Desta forma, a lei de Newton do movimento nos fornece o seguinte modelo matemático

ms′′(t)=ks(t), (3.107)

onde s=s(t) é a posição da massa (s=0 é a posição de repouso, s>0 a mola está esticada e s<0 a mola está contraída). Ou seja, trata-se de uma EDO de segunda ordem homogênea e com coeficientes constantes.

Supondo que, no tempo inicial t=0, a massa está na posição inicial s0 e velocidade v0, temos que a situação física é modelada pelo seguinte PVI

s′′+kms=0,t>0, (3.108)
s(0)=s0,s(0)=v0. (3.109)

Como k/m>0, temos que a equação característica associada têm raízes imaginárias

r=±kmi. (3.110)

Logo, a solução geral é

s(t)=c1cos(kmt)+c2sen(kmt). (3.111)

Agora, aplicando as condições iniciais, obtemos

s(t)=s0cos(kmt)+v0mksen(kmt). (3.112)

3.2.2 Raízes repetidas

Seja a equação

ay′′+by+cy=0, (3.113)

cuja equação característica

ar2+br+c=0 (3.114)

tem raiz dupla1010endnote: 10b24ac=0

r=b2a. (3.115)

Neste caso, podemos verificar que

y1(t)=eb2at (3.116)

é solução particular de (3.113).

Vamos usar o método de redução de ordem para encontrar uma segunda solução particular y2=y2(t) de (3.113), lembrando que o wronskiano W(y1,y2;t) deve ser não nulo. O método consiste em buscar por uma solução da forma

y2(t) =u(t)y1(t) (3.117)
=u(t)eb2at. (3.118)

Substituindo y2 na EDO (3.113), obtemos

0 =ay2′′+by2+cy2 (3.119)
=a(u′′y1+2uy1+uy1′′) (3.120)
+b(uy1+uy1)+cuy1 (3.121)
=au′′y1+(2ay1+by1)u (3.122)
+(ay1′′+by1+cy1)u (3.123)
=au′′y1+(2ab2aeb2a+beb2a)u (3.124)
=au′′y1. (3.125)

Segue que

u′′=0 u=c1 (3.126)
u=c1+c2t. (3.127)

Podemos escolher c1 e c2 arbitrariamente, desde que o wronskiano

W(y1,y2;t)0. (3.128)

A escolha mais simples é c1=0 e c2=1, donde segue que

y2(t)=teb2at. (3.129)

Concluímos que a solução geral de (3.113) é

y(t)=(c1+c2t)eb2at. (3.130)
Exemplo 3.2.2.

Vamos resolver

y′′2y+y=0. (3.131)

Da equação característica

r22r+1=0 (3.132)

obtemos a raiz dupla

r=1. (3.133)

Logo, a solução geral da EDO é

y(t)=(c1+c2t)et. (3.134)

Exercícios resolvidos

ER 3.2.1.

Resolva

y′′4y+5y=0, (3.135)
y(0)=2,y(0)=0. (3.136)
Solução.

Resolvendo a equação característica

r24r+5=0, (3.137)

obtemos as raízes

r =4±164152 (3.138)
=2±i. (3.139)

Logo, a solução geral é

y(t)=e2t[c1cos(t)+c2sen(t)]. (3.140)

Por fim, aplicamos as condições iniciais

y(0)=2 e20[c1cos(0)+c2sen(0)]=2 (3.141)
c1=2. (3.142)

e, observando que

y(t)=e2t[(2c1+c2)cos(t)+(2c2c1)sen(t)] (3.143)

temos

y(0)=0 e20(22+c2)=0 (3.144)
4+c2=0 (3.145)
c2=4. (3.146)

Concluímos que a solução do PVI é

y(t)=e2t[2cos(t)4sen(t)]. (3.147)
ER 3.2.2.

Resolva

y′′+4y+4y=0, (3.148)
y(0)=0,y(0)=1. (3.149)
Solução.

Resolvemos a equação característica

r2+4r+4=0, (3.150)

de modo que obtemos uma raiz dupla

r=2. (3.151)

Logo, a solução geral da EDO é

y(t)=(c1+c2t)e2t. (3.152)

Agora, aplicamos as condições iniciais

y(0)=0c1=0 (3.153)

e, observando que

y(t)=(c22c12c2t)e2t (3.154)
y(0)=1 (c2202c20)e20=1 (3.155)
c2=1. (3.156)

Concluímos que a solução do PVI é

y(t)=te2t. (3.157)
ER 3.2.3.

(Sistema massa-mola amortecido) Um sistema massa-mola amortecido sem força externa pode ser modelado pelo seguinte PVI

ms′′+γs+ks=0,t>0, (3.158)
s(0)=s0,s(0)=v0, (3.159)

onde s=s(t) é a posição da massa (s=0 posição de repouso, s>0 mola estendida, m<0 mola contraída), m>0 massa, γ>0 coeficiente de resistência do meio, k>0 constante da mola, s0 posição inicial e v0 velocidade inicial da massa.

Mostre que s(t)0 quando t, i.e. a massa tende ao repouso ao passar do tempo.

Solução.

A equação característica associada é

mr2+γr+k=0, (3.160)

cujas raízes são

r1,r2=γ±γ24mk2m. (3.161)

Vejamos as seguintes possibilidades:

  1. a)

    γ24mk0.

    Como m,k>0, temos que γ24mk<γ2 e, portanto, γ24mk<γ. Segue que r1,r2<0. Se r1r2, a solução geral é

    s(t)=c1er1t+c2er2t. (3.162)

    Se r1=r2, a solução geral é

    s(t)=(c1+c2t)eγ2mt. (3.163)

    Em ambos os casos, s(t)0 quando t0, devido aos expoentes negativos.

  2. b)

    γ24mk<0.

    Neste caso, a solução geral é

    s(t)=eγ2mt[c1cos(γ24mk2mt)+c2sen(γ24mk2mt)]. (3.164)

    Novamente, como seno e cosseno são funções limitadas, temos que o termo exponencial domina para t0. Ou seja, s(t)0 quando t0.

Exercícios

E. 3.2.1.

Encontre a solução geral de

2y′′4y+4y=0. (3.165)
Resposta.

y(t)=[c1sen(t)+c2cos(t)]et

E. 3.2.2.

Resolva

2y′′+12y=26y, (3.166)
y(0)=0,y(0)=2. (3.167)
Resposta.

y(t)=e3tsen(2t)

E. 3.2.3.

Encontre a solução geral de

3y′′+27y=18y (3.168)
Resposta.

y(t)=(c1+c2t)e3t

E. 3.2.4.

Resolva

y=2y+y′′, (3.169)
y(0)=2,y(0)=0. (3.170)
Resposta.

y(t)=(2+2t)et

Exemplo 3.2.3.

Mostre que o wronskiano de y1(t)=eλtcos(μt) e y2(t)=eλtsen(μt) é não nulo para qualquer μ0.

Resposta.

W(y1,y2;t)=μe2λt0

Exemplo 3.2.4.

Mostre que o wronskiano de y1(t)=ert e y2(t)=tert é não nulo para qualquer r.

Resposta.

W(y1,y2;t)=e2rt0


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