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5.1 EDO de ordem 2 com coeficientes variáveis: fundamentos

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Nesta seção, vamos discutir de forma bastante introdutória o caso de EDOs lineares de ordem 2 com coeficientes não constantes, i.e. EDOs da forma

p(x)y′′+q(x)y+r(x)y=g(x), (5.1)

sendo y=y(x) e p(x)0.

A teoria fundamental para tais equações é análoga a de equações com coeficientes constantes. Mais precisamente, a solução geral pode ser escrita na forma

y(t)=c1y1(x)+c2y2(x)+yp(x), (5.2)

onde y1 e y2 formam um conjunto de soluções fundamentais (W(y1,y2;t)0) para a equação homogênea associada e yp é uma solução particular da equação não homogênea. Cabe observar que a existência e unicidade de solução (para um PVI com equação homogênea) é garantida quando os coeficientes p, q e r são funções contínuas no domínio de interesse.

A seguir, vamos explorar dois casos. O primeiro, é a equação de Euler2222endnote: 22Leonhard Euler, 1707-1783, matemático suíço. Fonte: Wikipedia., a qual admite soluções da forma y=xr e pode ser tratada usando as mesmas abordagem utilizadas no caso das equações com coeficientes constantes. O segundo caso, são de equações que admitem soluções em série de potências.

5.1.1 Equação de Euler

Um caso fundamental de uma EDO linear de segunda ordem com coeficientes não constantes é a equação de Euler

x2y′′+axy+by=0, (5.3)

onde a,b são constantes e y=y(x).

Assumindo uma solução da forma

y(t)=xr (5.4)

e substituindo na EDO, obtemos

x2r(r1)xr2+axrxr1+bxr=0. (5.5)

Rearranjando os termos, temos a equação característica

r(r1)+ar+b=0 (5.6)

ou, equivalentemente,

r2+(a1)r+b=0. (5.7)

Suas raízes são

r1,r2=(1a)±(a1)24b2. (5.8)

Raízes reais distintas

No caso de (a1)24b0, temos que as raízes r1 e r2 da equação característica são reais e distintas (r1r2). Assim, y1(x)=xr1 e y2(x)=xr2 são soluções da equação de Euler e o wronskiano

W(y1,y2;t) =|y1y2y1y2| (5.11)
=|xr1xr2r1xr11r2xr21| (5.14)
=(r2r1)xr1+r210. (5.15)

Ou seja, {y1,y2} formam um conjunto fundamental de soluções para a equação de Euler, logo sua solução geral é

y(t)=c1xr1+c2xr2. (5.17)
Exemplo 5.1.1.

Vamos encontrar a solução geral de

x2y′′+xy4y=0. (5.18)

Supondo uma solução da forma y(t)=xr, obtemos a equação característica associada

r24=0. (5.19)

Suas raízes são r1=2 e r2=2. Logo, concluímos que a solução geral é

y(x)=c1x2+c2x2. (5.20)

No Python2323endnote: 23Veja Observação LABEL:obs:cap_edolin_python, temos

1    In : from sympy import *
2    In : dsolve(x**2*diff(y(x),x,2)+x*diff(y(x),x)-4*y(x))
3    Out: Eq(y(x), C1/x**2 + C2*x**2)

Raiz dupla

No caso de (a1)24b=0, a equação característica tem raiz dupla

r=1a2. (5.21)

Isto nos fornece a solução particular

y1(t)=xr. (5.22)

Para obtermos uma outra solução, usamos o método da redução de ordem. I.e., buscamos por uma solução da forma

y2(x)=u(x)y1(x), (5.23)

Substituindo y2 na equação de Euler, obtemos

0 =x2y2′′+axy2+by2 (5.24)
=x2(y1′′u+2y1u+y1u′′) (5.25)
+ax(y1u+y1u) (5.26)
+by1u (5.27)
=(x2y1′′+axy1+By1)u=0 (5.28)
+x2y1u′′+(2x2y1+axy1)u (5.29)
=xr+2u′′+(2x2rxr1+axxr)u (5.30)
=xr+2u′′+(2r+a)xr+1u (5.31)
=xr+2u′′+xr+1u (5.32)

Desta equação, obtemos

xr+2u′′=xr+1u 1uu′′=x1 (5.33)
ln|u|=ln|x|+c (5.34)
u=cx (5.35)
u=cln|x|+d. (5.36)

Ou seja, podemos escolher y2(x)=xrln|x|. Conferindo o wronskiano, temos

W(y1,y2;t) =|xrxrln|x|rxr1(rln|x|+1)xr1| (5.39)
=x2r10,x0. (5.40)

Concluímos que, no caso de raiz dupla r=(1a)/2, a solução geral da equação de Euler é

y(t)=(c1+c2ln|x|)x1a2. (5.41)
Exemplo 5.1.2.

Vamos obter a solução geral de

x2y′′xy+y=0. (5.42)

A equação característica associada é

r22r+1=0, (5.43)

a qual tem raiz dupla r=1. Logo, a solução geral desta equação de Euler é

y(t)=(c1+c2ln|x|)x. (5.44)

No Python2424endnote: 24Veja Observação LABEL:obs:cap_edolin_python, temos

1    In : from sympy import *
2    In : dsolve(x**2*diff(y(x),x,2)-x*diff(y(x),x)+y(x))
3    Out: Eq(y(x), x*(C1 + C2*log(x)))

Raízes complexas

No caso de (a1)24b<0, a equação característica associada a equação de Euler tem raízes complexas

r1,r2=λ±iμ (5.45)

onde

λ=(1a)2eμ=4b(a1)22. (5.46)

Da fórmula de Euler, temos

xλ±iμ =elnxλ±iμ (5.47)
=e(λ±iμ)ln(x) (5.48)
=eλln|x|[cos(μlnx)±isen(μlnx)] (5.49)
=xλ[cos(μlnx)±isen(μlnx)]. (5.50)

Agora, da linearidade da equação de Euler, vemos que y1(x)=xλcos(μln|x|) e y2(x)=xλsen(μln|x|) são soluções particulares. Mais ainda, o wronskiano

W(y1,y2;t) =|y1y2y1y2| (5.53)
=μx2λ1 (5.54)
=4b(a1)22xa0. (5.55)

Concluímos que, no caso de raiz dupla, a solução geral é

y(t)=xλ[c1cos(μln|x|)+c2sen(μln|x|)]. (5.56)
Exemplo 5.1.3.

Vamos obter a solução geral de

x2y′′+xy+y=0. (5.57)

A equação característica associada é

r2+1=0, (5.58)

a qual tem raízes imaginárias r=±i. Logo, a solução geral desta equação de Euler é

y(t)=c1cos(ln|x|)+c2sen(ln|x|). (5.59)

No Python2525endnote: 25Veja Observação LABEL:obs:cap_edolin_python, temos

1    In : from sympy import *
2    In : dsolve(x**2*diff(y(x),x,2)+x*diff(y(x),x)+y(x))
3    Out: Eq(y(x), C1*sin(log(x)) + C2*cos(log(x)))

5.1.2 Solução em série de potências

Em muitos casos, a solução geral de tais EDOs pode ser escrita como uma série de potências, i.e.

y(t)=n=0an(xx0)n. (5.60)

O ponto x0 é arbitrário e deve pertencer ao domínio de interesse. A ideia básica é, então, substituir a representação em série de potência de y na EDO de forma a calcular seus coeficientes.

Exemplo 5.1.4.

Vamos usar o método de série de potências para resolver

y′′xy=0, (5.61)

chamada equação de Airy2626endnote: 26Sir George Biddell Airy, 1801 - 1892, matemático inglês. Fonte: Wikipedia..

Vamos assumir que

y(t)=n=0anxn. (5.62)

Segue que

y(t) =n=1annxn1 (5.63)
=n=0an+1(n+1)xn (5.64)

e

y′′(t) =n=1an+1(n+1)nxn1 (5.65)
=n=0an+2(n+2)(n+1)xn. (5.66)

Substituindo na equação de Airy, obtemos

0 =y′′xy (5.67)
=n=0an+2(n+2)(n+1)xnxn=0anxn (5.68)
=n=0an+2(n+2)(n+1)xnn=0anxn+1 (5.69)
=2a2+n=1an+2(n+2)(n+1)xnn=1an1xn (5.70)
=2a2+n=1(an+2(n+2)(n+1)an1)xn. (5.71)

Como esta última equação deve valer para todo x, segue que

a2=0, (5.72)
(n+2)(n+1)an+2=an1,n=1,2,3, (5.73)

Observamos que não há condições impostas para a0 e a1, ou seja, são constantes indeterminadas. Das relações acima, obtemos:

  1. a)

    n=3,6,9,:

    a5 =a245=0 (5.74)
    a8 =a579=0 (5.75)
    a11 =a81011=0 (5.76)
    (5.77)
    a3k+2 =0,k1. (5.78)
  2. b)

    n=1,4,7,:

    a3 =a023, (5.79)
    a6 =a356=a02356, (5.80)
    a9 =a689=a0235689 (5.81)
    (5.82)
    a3k =a023(3k1)(3k),k1. (5.83)
  3. c)

    n=2,5,8,:

    a4 =a134, (5.84)
    a7 =a467=a13467, (5.85)
    a10 =a7910=a13467910, (5.86)
    (5.87)
    a3k+1 =a134(3k)(3k+1),k1. (5.88)

Do que calculamos, podemos concluir que

y(t) =a0[1+k=1x3k23(3k1)(3k)] (5.89)
+a1[x+k=1x3k+134(3k)(3k+1)]. (5.90)

Há uma série de questões importantes que fogem dos objetivos destas notas de aula. Por exemplo, observamos que nem sempre é possível escrever a solução de uma EDO como uma série de potências. Também deve-se fazer um tratamento especial quando P(x0)=0. Para maiores informações, pode-se consultar [Boyce2017].

Exercícios resolvidos

ER 5.1.1.

Resolva

x2y′′2xy+2y=0, (5.91)
y(1)=0ey(1)=1. (5.92)
Solução.

Trata-se de um PVI envolvendo a equação de Euler. Primeiramente, buscamos a solução geral desta equação. Para tanto, resolvemos a equação característica associada

r23r+2=0. (5.93)

As raízes desta equação são

r1=1er2=2. (5.94)

Logo, a solução geral da EDO é

y(t)=c1x+c2x2. (5.95)

Agora, das condições iniciais, obtemos

y(1)=0c1+c2=0 (5.96)
y(1)=1c1+2c2=1 (5.97)

Resolvendo, obtemos c1=1 e c2=1. Concluímos que a solução do PVI é

y(t)=xx2. (5.98)
ER 5.1.2.

Considere o seguinte PVI

y′′+xy=cos(x), (5.99)
y(0)=1,y(0)=0. (5.100)

Calcule os quatro primeiros termos da representação da solução em série de potências em torno de x0=0.

Solução.

Consideramos que a solução possa ser escrita como uma série de potências da forma

y(x)=n=0anxn. (5.101)

Ainda, lembramos que

cos(x)=n=0(1)nx2n(2n)!. (5.102)

Assim sendo, substituímos na EDO para encontrarmos

cos(x) =y′′+xy (5.103)
n=0(1)nx2n(2n)! =n=0an+2(n+2)(n+1)xn (5.104)
+xn=0an+1(n+1)xn (5.105)
=n=0an+2(n+2)(n+1)xn (5.106)
+n=0an+1(n+1)xn+1 (5.107)
1+n=1(1)nx2n(2n)! =2a2+n=1an+2(n+2)(n+1)xn (5.108)
+n=1annxn (5.109)

Daí, considerando como constantes indeterminadas a0=c1 e a1=c2, temos

a2=12,a3=c26. (5.111)

Obtivemos a seguinte aproximação da solução geral

y(x)c1+c2x+12x2c26x3. (5.112)

Aplicando as condições iniciais, temos

y(0)=1 c1=1 (5.113)
y(0)=0 c2=0. (5.114)

Assim, temos calculado a seguinte aproximação da solução

y(x)=1+12x2. (5.115)

Exercícios

Em construção …


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