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2.2 Equação separável

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Uma EDO de primeira ordem

dydx=f(x,y) (2.124)

é dita ser uma equação separável quando pode ser reescrita na seguinte forma

M(x)+N(y)dydx=0. (2.125)
Exemplo 2.2.1.

Vejamos os seguintes casos.

  1. a)

    É separável a EDO

    dydx=x2y, (2.126)

    pois pode ser reescrita como segue

    dydx=x2y (2.127)
    ydydx=x2 (2.128)
    x2M(x)+yN(y)dydx=0. (2.129)
  2. b)

    Não é separável a EDO

    exyxdydx=0. (2.130)

    Observe que não há como reescrever esta equação na forma (2.125).

Agora, vamos ver como podemos resolver uma EDO separável. Consideremos a equação separável

M(x)+N(y)dydx=0. (2.131)

Sejam, também, F=F(x) e G=G(y) primitivas de M e N, respectivamente. I.e.

ddxF(x)=M(x), (2.132)
ddyG(y)=N(y). (2.133)

Lembrando que y=y(x), temos da regra da cadeia que

ddxG(y) =dG(y)dydydx (2.134)
=N(y)dydx. (2.135)

Ou seja, a EDO (2.131) pode ser reescrita na forma

ddxF(x)+ddxG(y)=0 (2.136)

ou ainda,

ddx(F(x)+G(y))=0. (2.137)

Então, integrando em relação a x, obtemos

F(x)+G(y)=c, (2.138)

a qual é uma equação algébrica para y que, com sorte, pode ser usada para explicitar a solução da EDO (2.131).

Exemplo 2.2.2.

Vamos resolver a seguinte EDO separável:

dydx=x2y. (2.139)
  1. a)

    Método 1. Primeiramente, reescrevemos a EDO no formato (2.125):

    x2M(x)+yN(y)dydx=0. (2.140)

    Então, calculamos as primitivas

    F(x) =M(x)𝑑x (2.141)
    =x2dx (2.142)
    =x33+c (2.143)

    e

    G(y) =N(y)𝑑y (2.144)
    =y𝑑y (2.145)
    =y22+c. (2.146)

    Então, segue que a EDO resume-se a seguinte equação algébrica

    F(x)+G(y)=c (2.147)
    x33+y22=c (2.148)

    a qual é uma equação implícita da solução geral y=y(x).

  2. b)

    Método 2. A EDO separável

    dydx=x2y (2.149)

    pode ser reescrita como

    ydy=x2dx. (2.150)

    Integrando ambos os lados desta equação, obtemos

    y22=x33+c, (2.151)

    a qual é equivalente a solução obtida em (2.148).

Na figura abaixo, temos esboços dos gráficos da solução para diferentes valores de c.

Refer to caption
Figura 2.3: Esboços dos gráficos da solução da EDO do Exemplo 2.2.2 para: (azul) c=1, (vermelho) c=0, (verde) c=1 e (preto) c=2.

No Python, podemos computar a solução com os seguintes comandos:

1    In : from sympy import *
2    ...: y = symbols('y', cls=Function)
3    ...: x,C1 = symbols('x,C1')
4    ...: edo = Eq(diff(y(x),x),x**2/y(x))
5    ...: sg = dsolve(edo, y(x), simplify=False)
6    ...: sg
7    Out: Eq(y(x)**2/2, C1 + x**3/3)

Os esboços dos gráficos podem ser feitos com:

1    In : var('y')
2    ...: sg = sg.subs(y(x),y)
3    ...: p = plot_implicit(sg.subs(C1,-1), (x,-4,4), \
4    ...:          (y,-4,4), line_color='blue', show=False)
5    ...: q = plot_implicit(sg.subs(C1,0), (x,-4,4), \
6    ...:          (y,-4,4), line_color='red', show=False)
7    ...: p.extend(q)
8    ...: q = plot_implicit(sg.subs(C1,1), (x,-4,4), \
9    ...:          (y,-4,4), line_color='green', show=False)
10    ...: p.extend(q)
11    ...: q = plot_implicit(sg.subs(C1,2), (x,-4,4), \
12    ...:          (y,-4,4), line_color='black', show=False)
13    ...: p.extend(q)
14    ...: p.show()
Observação 2.2.1.

Como vimos no exemplo anterior (Exemplo 2.2.2), a solução geral de uma EDO separável nem sempre pode ser explicitada. Em muitos casos o procedimento de separar as variáveis nos leva a obter a solução da EDO na forma de uma equação algébrica implícita.

2.2.1 Equação de Verhulst

A equação de Verhulst33endnote: 3Pierre François Verhulst, 1804-1849, matemático belga. (ou equação logística) é um clássico modelo de crescimento populacional. Trata-se da seguinte equação autônoma

dydt=r(1yK)y, (2.152)

onde y é a medida de tamanho da população e os parâmetros são: r>0 a taxa de crescimento intrínseca e K>0 o nível de saturação.

Antes de resolvermos esta equação, vamos fazer algumas observações que podem ser obtidas diretamente da EDO. Do cálculo, temos que se dy/dt=0 para todos os valores de t, então y é constante, i.e. a população se mantém constante. A derivada é nula quando o lado direito de (2.152) for nulo, i.e.

r(1yK)y=0. (2.153)

Isso ocorre quando y=0 ou quando y=K. Ou seja, se a população é nula não há crescimento populacional, bem como, não há crescimento se a população estiver em seu nível de saturação.

Agora, o que ocorre se a população for 0<y<K? Neste caso, temos

dydt=r(1yK)>0y>0, (2.154)

ou seja, a população cresce. Por outro lado, se y>K (a população está acima de seu nível de saturação), então

dydt=r(1yK)<0y<0, (2.155)

a população decresce. Estas conclusões também nos levam a inferir que

limty(t)=K, (2.156)

para qualquer população inicial não nula.

Solução da equação logística

Consideramos o seguinte PVI

dydt=r(1yK)y,t>0, (2.157)
y(0)=y0. (2.158)

A equação de Verhulst é uma EDO separável, daí segue que

dydt=r(1yK)y (2.159)
1(1yK)ydy=rdt. (2.160)

Vamos integrar o lado esquerdo desta última equação44endnote: 4Vamos usar de decomposição em frações parciais.

1(1yK)y𝑑y =(1y+1/K1y/K)𝑑y (2.161)
=ln|y|ln|1yK|. (2.162)

Logo, a solução da equação logística satisfaz a seguinte equação algébrica

ln|y|ln|1yK|=rt+c, (2.163)

onde c é uma constante a determinar. Antes, observamos que esta equação é equivalente a

ln|y1yK|=rt+c. (2.164)

Aplicando a função exponencial, obtemos

y1y/K=cert. (2.165)

Da condição inicial y(0)=y0, encontramos

c=y01y0/K. (2.166)

Agora, podemos isolar y em (2.165) como segue:

y=(1yK)cert (2.167)
y=certycKert (2.168)
(1+cKert)y=cert (2.169)
y=cert1+cKert (2.170)

Então, multiplicando em cima e em baixo por (K/c)ert, obtemos

y=KKcert+1. (2.171)

Por fim, de (2.166), obtemos a solução

y(t)=y0Ky0+(Ky0)ert. (2.172)

Da solução, corroboramos que a população permanece constante quando y0=0 ou y0=K. Ainda, se 0<y0<K ou y0>K, temos que

limty(t) =limty0Ky0+(Ky0)ert0 (2.173)
=K. (2.174)
Exemplo 2.2.3.

Vamos usar a equação de Verhulst para modelar a dinâmica de uma população com taxa de crescimento intrínseca r=0,1 e nível de saturação K=1 (bilhão). Pelo que vimos nesta subsecção, temos o modelo

dydt=0,1(1y)y,t>0, (2.175)
y(0)=y0, (2.176)

onde y:y(t) é a solução no tempo t e y0 é a população inicial.

De 2.172, temos a solução

y(t)=y0y0+(1y0)e0,1t. (2.177)

A figura abaixo, mostra a dinâmica da população para y0=0,5<K, y0=1=K e y0=1,5>K.

Refer to caption
Figura 2.4: Exemplo 2.2.3. Dinâmicas populacionais para: (azul) y0=0,5<K, (preto) y=1=K e (vermelho) y=1,5>K.

Exercícios resolvidos

ER 2.2.1.

Calcule a solução geral da EDO

y=2y2+xy2. (2.178)
Solução.

Separando as variáveis, obtemos

y=2y2+xy2 (2.179)
dydx=y2(2+x) (2.180)
1y2dy=(2+x)dx. (2.181)

Integrando, obtemos a solução geral

1y=2x+x22+c. (2.182)
ER 2.2.2.

Calcule a solução do PVI

dydx=x2y,x>0, (2.183)
y(0)=2. (2.184)
Solução.

Separamos as variáveis e integramos

dydx=x2y (2.185)
ydy=x2dx (2.186)
y𝑑y=x2𝑑x (2.187)
y22=x33+c. (2.188)

Determinamos a constante c pela aplicação da condição inicial y(0)=2. Ou seja, temos

y2(0)2=033+c (2.189)
c=2. (2.190)

Logo, a solução y=y(x) do PVI é dada pela equação algébrica

y22=x33+2. (2.191)

Buscando explicitar a solução, observamos que

y2=23x3+4 (2.192)
y=±23x3+4. (2.193)

Lembrando que y(0)=2, temos necessariamente que

y(x)=23x3+4. (2.194)
ER 2.2.3.

(Crescimento populacional com limiar) Considere o seguinte modelo de crescimento populacional

dydt=r(1yL)y,t>0,
y(0)=y0,

onde y=y(t) é o tamanho da população, y00 é a população inicial e são parâmetros r,L>0. Forneça os valores de y0 para os quais a população é crescente.

Solução.

A população y é crescente quando

dydt>0. (2.195)

Logo, precisamos ter

r(1yL)y>0. (2.196)

Isto ocorre quando

1yL<0 (2.197)
y>L. (2.198)

Logo, concluímos que uma população inicial y0>L é necessária para produzir uma taxa de crescimento populacional positiva.

Exercícios

E. 2.2.1.

Calcule a solução de

dydx=xey,x>0, (2.199)
y(0)=1. (2.200)
Resposta.

y(x)=ln(22e1x2).

E. 2.2.2.

Resolva a EDO

y+y2cosx=0. (2.201)
Resposta.

y(x)=1c+senx

E. 2.2.3.

Resolva o PVI

ex+yy=1,x>0,y(0)=0. (2.202)
Resposta.

y(x)=ln(2ex)

E. 2.2.4.

Considere o seguinte modelo de crescimento populacional

dydt=r(1yL)y,t>0,
y(0)=y0,

onde y=y(t) é o tamanho da população, y00 é a população inicial e são parâmetros r,L>0. Qual é a tendência da população y=y(t) quando t e

  1. a)

    y0=0;

  2. b)

    0<y0<L;

  3. c)

    y0=L;

  4. d)

    y0>L

Resposta.

a) y(t)0; b) y(t)0; c) y(t)L; d) y(t).

E. 2.2.5.

Resolva o seguinte modelo de crescimento populacional

dydt=r(1yL)y,t>0,
y(0)=y0,

onde y=y(t) é o tamanho da população, y00 é a população inicial e são parâmetros r,L>0.

Resposta.

y(t)=y0Ly0+(Ly0)ert.

E. 2.2.6.

Considere o seguinte modelo de crescimento populacional

dydt=r(1yL)(1yK)y,t>0,
y(0)=y0,

onde y=y(t) é o tamanho da população, y00 é a população inicial e são parâmetros r>0, K>L>0. Qual é a tendência da população y=y(t) quando t e

  1. a)

    y0=0;

  2. b)

    0<y0<L;

  3. c)

    y0=L

  4. d)

    L<y0<K;

  5. e)

    y0=K

  6. f)

    y0>K

Resposta.

a) y(t)0; b) y(t)0; c) y(t)L; d) y(t)K; e) y(t)K; f) y(t)K.


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