| | | | |

2.3 Equação exata

Ajude a manter o site livre, gratuito e sem propagandas. Colabore!

Uma EDO

M(x,y)+N(x,y)dydx=0 (2.203)

é uma equação exata quando

yM(x,y)=xN(x,y). (2.204)

Neste caso, pode-se calcular uma função Ψ=Ψ(x,y) tal que

Ψx=M(x,y),Ψy=N(x,y). (2.205)

Com isso, e lembrando que y:y(x), a EDO (2.203) é equivalente a55endnote: 5xf(y(x))=fydydx

ddxΨ(x,y) =Ψx+Ψydydx (2.206)
=M(x,y)+N(x,y)dydx (2.207)
=0. (2.208)

Logo, temos a solução geral

Ψ(x,y)=c. (2.209)
Exemplo 2.3.1.

Vamos resolver a seguinte EDO

(3x22xy+2)+(6y2x2+3)dydx=0. (2.210)

Denotamos

M(x,y) =3x22xy+2, (2.211)
N(x,y) =6y2x2+3. (2.212)

Calculando as derivadas parciais

yM(x,y)=2x, (2.213)
xN(x,y)=2x, (2.214)

vemos que (2.210) é uma equação exata. Desta forma, buscamos por uma função Ψ=Ψ(x,y) tal que

Ψx=M(x,y),Ψy=N(x,y). (2.215)
  1. a)

    Método 1. Podemos calcular Ψ a partir de

    Ψx=M(x,y). (2.216)

    Integrando em relação a x, obtemos

    Ψ(x,y) =M(x,y)𝑑x+f(y) (2.217)
    =3x22xy+2dx+f(y) (2.218)
    =x3x2y+2x+f(y). (2.219)

    Para encontrar f(y), usamos

    Ψy=N(x,y). (2.220)

    No caso, temos

    x2+f(y)=6y2x2+3, (2.221)

    donde

    f(y)=6y2+3. (2.222)

    Integrando em relação a y, obtemos

    f(y) =6y2+3dy (2.223)
    =2y3+3y+c. (2.224)

    Concluímos que

    Ψ(x,y)=x3x2y+2x+2y3+3y+c. (2.225)

    A solução geral da EDO é dada pela equação implícita

    x3x2y+2x+2y3+3y=c. (2.226)
  2. b)

    Método 2. Partimos da equação

    Ψy=N(x,y). (2.227)

    Integrando em relação a y, obtemos

    Ψ(x,y) =N(x,y)𝑑y+g(x) (2.228)
    =6y2x2+3dy+g(x) (2.229)
    =2y3x2y+3y+g(x). (2.230)

    Agora, usando

    Ψx=M(x,y), (2.231)

    temos

    2xy+g(x)=3x22xy+2 (2.232)
    g(x)=3x2+2. (2.233)

    Integrando em relação a x, obtemos

    g(x) =3x2+2dx+c (2.234)
    =x3+2x+c. (2.235)

    Ou seja, obtivemos

    Ψ(x,y)=2y3x2y+3y+x3+2x+c, (2.236)

    o que nos fornece a solução geral

    2y3x2y+3y+x3+2x=c. (2.237)

Na figura abaixo, temos esboços da solução geral para diferentes valores de c.

Refer to caption
Figura 2.5: Exemplo 2.3.1. Esboços da solução geral para: (azul) c=10, (preto) c=5, (verde) c=5.

No Python, podemos computar a solução geral da EDO com os seguintes códigos:

1    In : from sympy import *
2    ...: y = Function('y')
3    ...: x,C1 = symbols('x,C1')
4    ...: edo = 3*x**2-2*x*y(x)+2 + (6*y(x)**2-x**2+3)*diff(y(x),x)
5    ...: sg = dsolve(edo, y(x), simplify=False)
6    ...: sg
7    Out: Eq(x**3 - x**2*y(x) + 2*x + 2*y(x)**3 + 3*y(x), C1)

Os esboços dos gráficos podem ser obtidos com:

1    In : var('y')
2    ...: sg = sg.subs(y(x),y)
3    ...: p = plot_implicit(sg.subs(C1,-10),
4    ...:          (x,-3,3), (y,-3,3),
5    ...:          line_color='blue', show=False)
6    ...: q = plot_implicit(sg.subs(C1,-5),
7    ...:          (x,-3,3), (y,-3,3),
8    ...:          line_color='black', show=False)
9    ...: p.extend(q)
10    ...: q = plot_implicit(sg.subs(C1,5),
11    ...:          (x,-3,3), (y,-3,3),
12    ...:          line_color='green', show=False)
13    ...: p.extend(q)
14    ...: p.show()

2.3.1 Método dos fatores integrantes

Para algumas equações

M(x,y)+N(x,y)dydx=0 (2.238)

não exatas é possível aplicar o método dos fatores integrantes para convertê-las em equações exatas.

A ideia é buscar por um fator integrante μ=μ(x,y) tal que

μM(x,y)+μN(x,y)dydx=0 (2.239)

seja uma equação exata, i.e.

y(μM(x,y))=x(μN(x,y)). (2.240)

Ou seja, μ deve ser tal que

y(μM(x,y))x(μN(x,y))=0 (2.241)
μyM+μMyμxNμNx=0. (2.242)

Com isso, pode-se concluir que μ=μ(x,y) deve satisfazer

MμyNμx+(MyNx)μ=0. (2.243)

Em geral, resolver (2.243) pode ser tão ou mais difícil que resolver a EDO original (2.238). Vejamos alguns casos em que é possível encontrar o fator μ.

𝝁=𝝁(𝒙)

No caso de μ=μ(x) (função de x apenas), a equação (2.243) resume-se a

dμdx=MyNxNμ. (2.244)

Ou seja, se

MyNxN (2.245)

é função apenas de x, então podemos calcular um fator integrante μ=μ(x) resolvendo a EDO linear (2.244).

Exemplo 2.3.2.

Vamos resolver a EDO

(x+2)sen(y)+xcos(y)dydx=0. (2.246)

Denotando

M(x,y) =(x+2)sen(y) (2.247)
N(x,y) =xcos(y) (2.248)

vemos que

yM(x,y)=(x+2)cos(y)cos(y)=xN(x,y). (2.249)

Ou seja, não é uma equação exata. Por outro lado,

MyNxN =(x+2)cos(y)cos(y)xcos(y) (2.250)
=x+1x (2.251)

é função apenas de x, o que nos indica a existência de um fator integrante μ=μ(x) satisfazendo a seguinte EDO linear

ddxμ=MyNxNμ. (2.252)

Ou seja, resolvemos

dμdx=x+1xμ (2.253)
1μdμ=x+1xdx (2.254)
ln|μ|=x+ln|x|+c (2.255)
μ=cxex. (2.256)

Com isso, escolhendo o fator integrante μ=xex a equação

μM+μNdydx=0 (2.257)

é exata e é equivalente a EDO (2.246). De fato, temos

y(μM) =y[(x2+2x)exsen(y)] (2.258)
=(x2+2x)excos(y) (2.259)
=x[x2excos(y)] (2.260)
=x(μN). (2.261)

Para resolver (2.257), buscamos por uma função Ψ=Ψ(x,y) tal que

yΨ(x,y)=μN (2.262)
Ψ(x,y)=x2excos(y)𝑑y+f(x) (2.263)
Ψ(x,y)=x2exsen(y)+f(x). (2.264)

Bem como, Ψ deve satisfazer

xΨ(x,y)=μM (2.265)
(x2+2x)exsen(y)+f(x)=(x2+2x)exsen(y) (2.266)
f(x)=0 (2.267)
f(x)=c. (2.268)

Logo, podemos concluir que a solução geral de (2.246) é dada por

x2exsen(y)=c. (2.269)

No Python, podemos computar a solução geral com:

1    In : from sympy import *
2    ...: y = Function('y')
3    ...: x,C1 = symbols('x,C1')
4    ...: edo = (x+2)*sin(y(x))+x*cos(y(x))*diff(y(x),x)
5    ...: sg = dsolve(edo, y(x), simplify=False)
6    ...: sg
7    Out: Eq(log(cos(y(x))**2 - 1)/2, C1 - x - 2*log(x))

Esta solução é equivalente a (2.269)?

Observação 2.3.1.

A função checkodesol do SymPypermite verificar se uma expressão/equação é solução de uma dada EDO. No caso de exemplo anterior (Exemplo 2.3.2), podemos verificar a solução (2.269) com o seguinte código:

1    In : from sympy import *
2    ...: y = Function('y')
3    ...: x,C1 = symbols('x,C1')
4    ...: edo = (x+2)*sin(y(x))+x*cos(y(x))*diff(y(x),x)
5    ...: sol = Eq(x**2*exp(x)*sin(y(x)),C1)
6    ...: checkodesol(edo,sol)
7    Out: [(True, 0), (True, 0)]

𝝁=𝝁(𝒚)

No caso de μ=μ(y) (função de y apenas), a equação (2.243) resume-se a

dμdy=NxMyMμ. (2.270)

Ou seja, se

NxMyM (2.271)

é função apenas de y, então podemos calcular um fator integrante μ=μ(y) resolvendo a EDO linear (2.270).

Exemplo 2.3.3.

Vamos resolver a EDO

y+(2xyey)dydx=0. (2.272)

Denotando

M(x,y) =y (2.273)
N(x,y) =2xyey (2.274)

vemos que

yM(x,y)=12=xN(x,y). (2.275)

Ou seja, não é uma equação exata. Por outro lado,

NxMyM=1y (2.276)

é função apenas de y. Com isso, podemos obter um fator integrante μ=μ(y) resolvendo a seguinte EDO linear

dμdy=NxMyMμ (2.277)
dμdy=1yμ (2.278)
1μdμ=1ydy (2.279)
ln|μ|=ln|y|+c (2.280)
μ=cy. (2.281)

Desta forma, podemos escolher o fator integrante μ=y de forma que a equação

μM+μNdydx=0 (2.282)

é exata e equivalente a EDO (2.272). De fato, temos

y(μM) =y(y2) (2.283)
=2y (2.284)
=x[(2xyey)y] (2.285)
=x(μN). (2.286)

Sendo (2.282) uma equação exata, buscamos por uma função Ψ=Ψ(x,y) tal que

xΨ(x,y)=μM(x,y) (2.287)
Ψ(x,y)=y2𝑑x+f(y) (2.288)
Ψ(x,y)=xy2+f(y). (2.289)

Bem como,

yΨ(x,y)=μN(x,y) (2.290)
2xy+f(y)=2xyy2ey (2.291)
f(y)=y2ey (2.292)
f(y)=(y22y+2)ey+c. (2.293)

Logo, concluímos que a solução geral da EDO (2.272) é

xy2(y22y+2)ey=c. (2.294)

Vamos verificar esta solução no Python:

1    from sympy import *
2    y = Function('y')
3    x,C1 = symbols('x,C1')
4    edo = y(x)+(2*x-y(x)*exp(y(x)))*diff(y(x),x)
5    sol = Eq(x*y(x)**2-(y(x)**2-2*y(x)+2)*exp(y(x)),C1)
6    checkodesol(edo,sol,func=y(x),solve_for_func=False)

Tendo em vista que o SymPy não resolve esta EDO diretamente, a opção solve_for_func=False foi utilizada para impedir que o SymPy tente resolver a EDO.

Exercícios resolvidos

ER 2.3.1.

Verifique se a EDO

x2+(2xyy2)dydx=y2 (2.295)

é exata. Caso não seja, busque por um fator integrante para reescrevê-la como uma equação exata.

Solução.

Para verificarmos se a equação é exata, vamos colocá-la reescrevê-la na seguinte forma

x2+y2+(2xyy2)dydx=0. (2.296)

Com isso, identificamos

M(x,y) =x2+y2, (2.297)
N(x,y) =2xyy2. (2.298)

Ainda, temos

My=2y (2.299)

e

Nx=2y. (2.300)

Como

My=Nx, (2.301)

concluímos que a EDO é exata.

ER 2.3.2.

Resolva o seguinte PVI:

sen(y)+(xcos(y)+1)dydx=0, (2.302)
y(0)=π. (2.303)
Solução.

Denotando

M(x,y)=sen(y),N(x,y)=xcos(y)+1, (2.304)

vemos que a EDO associada ao PVI é uma equação exata. Logo, para resolvê-la buscamos por uma função Ψ=Ψ(x,y) tal que

Ψx=M(x,y) (2.305)
Ψ=M(x,y)𝑑x+f(y) (2.306)
Ψ=xsen(y)+f(y). (2.307)

Bem como, Ψ deve ser tal que

yΨ(x,y)=N(x,y) (2.308)
xcos(y)+f(y)=xcos(y)+1 (2.309)
f(y)=1 (2.310)
f(y)=y+c. (2.311)

Logo, a solução geral da EDO associada é dada por

xsen(y)+y=c. (2.312)

Por fim, aplicando a condição inicial y(0)=1, obtemos

0sen(1)+1=c (2.313)
c=1. (2.314)

Concluímos que a solução do PVI é dada por

xsen(y)+y=1. (2.315)

Exercícios

E. 2.3.1.

Verifique se a seguinte EDO é exata. Justifique sua resposta.

dydx=cos(y)1+xsen(y). (2.316)
Resposta.

Exata

E. 2.3.2.

Resolva a seguinte EDO

cos(y)+(1xsen(y))dydx=0. (2.317)
Resposta.

xcos(y)+y=c

E. 2.3.3.

Mostre que a seguinte EDO não é exata

xy2+1x2ydydx=0. (2.318)

Ainda, mostre que o fator integrante μ=x4 pode ser usado para transformar esta em uma equação exata. Por fim, resolva-a.

Resposta.

x2y22x33=c

E. 2.3.4.

Resolva a seguinte EDO

6xy+y2+(2x2+xy)dydx=0. (2.319)
Resposta.

(xy+2x2)24x4=c

E. 2.3.5.

Resolva o seguinte PVI

y+(y3x)dydx=0,y(1)=1 (2.320)
Resposta.

xy3y22=12


Envie seu comentário

As informações preenchidas são enviadas por e-mail para o desenvolvedor do site e tratadas de forma privada. Consulte a Política de Uso de Dados para mais informações. Aproveito para agradecer a todas/os que de forma assídua ou esporádica contribuem enviando correções, sugestões e críticas!